A Armadilha das Expectativas: Como a Rigidez da Mente nos Impede de Ser Feliz

“E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou, conforme o seu costume, num dia de sábado, na sinagoga, e levantou-se para ler.” (Lc 4, 16)

A passagem de hoje, fala do retorno de Jesus à sua cidade natal, nela contém um aprendizado para a nossa vida e saúde mental. Jesus entra na sinagoga de Nazaré e, ao se levantar para ler, cumpre a profecia de Isaías. No entanto, em vez de alegria, Ele encontra resistência e fúria. Por quê? Porque as pessoas simplesmente não conseguiam aceitar que o Messias que tanto esperavam era o carpinteiro que eles conheciam, o filho de Maria.

Essa história nos revela uma das maiores armadilhas para a nossa felicidade: a rigidez do pensamento. Nós, assim como o povo de Nazaré, carregamos uma lista de estereótipos, de preconceitos, sobre como as coisas deveriam ser: o Messias precisa ser um rei poderoso; a vida de sucesso tem que seguir um roteiro pré-definido; a felicidade só existe sem problemas; o amor é algo sem falhas.

Quando a nossa realidade não se encaixa nesses modelos, ficamos frustrados, ansiosos e decepcionados. A rigidez mental nos impede de reconhecer a verdade e a beleza que estão bem diante de nós, mas que vêm de uma forma que não esperamos. Essa cegueira não é um problema de visão, mas de coração. É o orgulho que nos faz querer ditar as condições a Deus e à vida, dizendo como Ele deve se manifestar. Queremos ser deus, e não deixamos Deus ser Deus em nossa vida, queremos que tudo corra conforme a nossa vontade e esquecemos de perguntar a ele, qual é a sua vontade sobre nós.

O povo de Nazaré queria um Messias que trouxesse o que eles queriam, do jeito que eles esperavam. Jesus, no entanto, veio de uma forma simples, humilde e inesperada, trazendo uma mensagem de liberdade e cura que eles não estavam preparados para receber. A felicidade que eles tanto buscavam estava ali, na pessoa que eles tanto conheciam, mas a sua rigidez mental os impediu de vê-la.

A cura começa quando temos a coragem de admitir que não somos os únicos a ter as respostas. A flexibilidade da mente é uma das virtudes mais importantes para a saúde mental. Ela nos permite lidar com a incerteza e com as surpresas da vida sem nos desmoronarmos. Nos ensina a encontrar alegria e paz em situações que não planejamos e a reconhecer que, muitas vezes, a maior bênção vem embrulhada em um pacote que parece um problema.

Escancarar o coração às surpresas de Deus é o convite do evangelho de hoje. É um ato de coragem que nos liberta da armadilha das expectativas. É a decisão de abrir mão de ter o controle e de confiar que a Providencia de Deus está agindo, mesmo quando o que vemos não corresponde aos nossos planos. É confiar que do nascer ao por do sol, tudo está nas mãos de Deus e que o mundo é guiado pelo Espírito Santo, é confiar que Deus diz um basta ao mal e o repreende em nossa vida.

Deus nos alcança de forma inesperada. Ele está nas pessoas que menos esperamos, nas situações que consideramos insignificantes, e até nas dores que pensamos não ter propósito. Prepare o seu coração para acolher as novidades de Deus hoje, no modo, no tempo e no momento que Ele decide, e você se tornará capaz de reconhecê-Lo onde menos espera. A liberdade começa quando paramos de lutar contra a vida e aprendemos a fluir com ela. Deixe hoje Deus te surpreender!

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares