O Antídoto para a Ansiedade: Como a Coragem de ‘Ir para o Fundo’ Liberta a Mente

“Estando Jesus um dia à margem do lago de Genesaré, o povo se comprimia em redor dele para ouvir a Palavra de Deus. ²Vendo duas barcas estacionadas à beira do lago –, pois os pescadores haviam descido delas para consertar as redes –, ³subiu a uma das barcas que era de Simão e pediu-lhe que a afastasse um pouco da terra; e sentado, ensinava da barca o povo.. ⁴Quando acabou de falar, disse a Simão: “Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar”. ⁵Simão respondeu-lhe: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos;por causa de tua palavra, lançarei a rede” . ⁶Feito isto, apanharam peixes em tanta quantidade, que a rede se lhes rompia..” (Lc 5, 1-5)

A passagem de hoje nos traz uma das imagens mais poderosas do Evangelho, uma que fala diretamente ao nosso coração e à nossa saúde mental. Jesus entra na barca de Pedro e pede que ele a afaste “um pouco da terra”.

A barca é a nossa vida. A terra representa a margem, o nosso porto seguro, o lugar das nossas preocupações e medos constantes. A vida na “terra” é a rotina, o trabalho incessante, o noticiário que nos consome, a ansiedade que nos diz para ficarmos na superfície, onde supostamente temos controle. É a “noite de trabalho” de Pedro, onde ele se esgotou e não pegou nada.

A ansiedade e a depressão nos mantêm na “terra”, presos em um ciclo de ruminação. Nós trabalhamos, nos preocupamos e nos agitamos, mas no fim do dia, a barca da nossa vida parece vazia. Ficamos paralisados pelo medo de “ir para o fundo”, de sair da nossa zona de conforto e de confrontar as emoções e os sentimentos mais profundos.

O convite de Jesus para “afastar-se um pouco da terra” é o primeiro passo para a liberdade. É um convite para o silêncio, para a oração, para a meditação. É a coragem de nos afastarmos do barulho, das vozes do mundo e das preocupações que nos consomem, para que possamos ouvir a única voz que realmente importa.

Mas o Senhor não nos pede apenas para nos afastarmos da terra. Ele nos convida para o segundo passo, o mais desafiador de todos: “ir para o fundo”, para o mar alto. Ir para o fundo significa ter a coragem de mergulhar na nossa própria vulnerabilidade. É o lugar onde não podemos mais controlar as coisas, onde a fé é a única bússola. É o lugar onde confrontamos as nossas feridas, os nossos traumas e o nosso ceticismo, mas também onde encontramos a nossa identidade e o nosso verdadeiro propósito.

A abundância que Pedro encontra não é o resultado de seu esforço ou sua habilidade. É um milagre, um presente de Deus que só foi possível porque ele obedeceu ao chamado. A cura e a plenitude que buscamos na vida também são assim. Elas não vêm do nosso controle ou da nossa obsessão por ficar na “terra” dos problemas. Elas vêm do abandono confiante no Senhor. Vêm da coragem de ir para o fundo, de ser autêntico e de se entregar à graça.

A barca da sua vida está vazia? O seu trabalho e a sua agitação não trouxeram o significado que você esperava? Talvez seja hora de você “ir para o fundo”. Com a fé no coração e a coragem de quem confia, você pode se afastar do medo e da ansiedade. O Senhor quer dar um novo propósito à sua vida. Ele quer que você experimente a bem-aventurança de pertencer a Ele, e que a sua barca transborde não apenas de peixes, mas de paz e alegria.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares