O Segredo da Vigilância no Casamento: Como a Espera Fortalece o Amor

“Disse-lhe Jesus: ‘Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. … Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não pensais’.” (Mt 24, 42-44)

A Palavra de hoje nos traz um convite urgente e profundo: vigiai. O convite de Jesus para esperar seu retorno na glória, na plenitude dos tempos, é a base da nossa fé. Somos como servos que aguardam o regresso do seu senhor no meio da noite. E é justamente assim que a vida a dois, o casamento, muitas vezes nos faz sentir: como em uma noite profunda, com o cansaço pesando sobre as pálpebras, e a rotina nos abatendo.

Como terapeuta de casais, eu vejo essa “noite” todos os dias. Ela se manifesta nas pequenas desavenças, na falta de comunicação, na distância emocional que se instala silenciosamente. É a sensação de que o relacionamento perdeu o brilho, de que a paixão se apagou, de que a alegria foi substituída pela monotonia. Nessa “noite”, o risco de perder a fé no amor é real. Quantas vozes nos dizem que nosso casamento não tem mais sentido, que o amor é uma ilusão, que a união foi varrida pela arrogância do tempo e das dificuldades?

O vigiar que Jesus nos pede não é sobre ficar em um estado de alerta ansioso. É sobre uma vigília cheia de confiança, uma espera prolongada no tempo. E é aqui que a fé e o relacionamento se encontram de forma profunda. O amor verdadeiro não é algo que se conquista e se guarda; ele precisa ser vigiado todos os dias. A nossa união a dois não vive apenas dos grandes momentos, mas das pequenas escolhas feitas na “noite” da vida.

Vigiai no casamento significa não ceder à tentação do desânimo. Significa lutar contra o cinismo que nos leva a acreditar que o amor é finito. É manter viva a chama do desejo, mesmo quando o cansaço e a rotina nos dizem o contrário. A fé que nos mantém na vigília é a certeza de que a promessa do amor de vocês é maior do que qualquer obstáculo.

A vigilância a que Jesus nos convida tem uma dupla dimensão. Não é apenas a espera pelo retorno glorioso do Senhor no fim dos tempos, mas a espera pelo Senhor que vem iluminar a nossa alma hoje. No relacionamento, isso se traduz na vigilância pelo amor que precisa ser renovado e descoberto a cada dia.

Essa vigília é um ato de humildade e coragem. É a humildade de admitir que o amor não se sustenta por si só, e a coragem de fazer a escolha de amar novamente, mesmo quando não sentimos vontade. É a paciência para não desistir, mesmo quando o outro erra, e a misericórdia para perdoar e recomeçar.

O casamento é a nossa vigília diária. É a espera pelo milagre de ver o outro de forma nova, de descobrir uma nova camada de intimidade, de encontrar novamente a alegria que parecia perdida. A vigilância no amor é a certeza de que a união de vocês é um projeto divino, um mistério a ser desvendado a cada dia, e que o Deus que iniciou essa obra em vocês tem um propósito eterno para ela.

Não permitam que as vozes do mundo, o cansaço ou a monotonia convençam vocês de que o amor acabou. A fé é justamente essa vigília incansável, essa espera que alimenta o desejo. E no fim, a recompensa não é apenas a salvação, mas a felicidade de um casamento que floresce na vigilância e na espera.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares