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O Perigo da Comparação: Por Que a Inveja é um Veneno para a Sua Saúde Mental

O Perigo da Comparação: Por Que a Inveja é um Veneno para a Sua Saúde Mental

“Porque o reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada a contratar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a sua vinha.” (Mt 20, 1-2)

A parábola de hoje nos oferece uma visão profunda da saúde mental, da nossa relação com o trabalho, com a vida e com a graça de Deus. À primeira vista, ela fala de justiça. Mas, no fundo, ela nos revela o veneno mais sutil e corrosivo para a nossa paz interior: a comparação.

A parábola começa com um dono de vinha que é mais do que um empregador: ele é um Deus que não suporta a humilhação e a solidão de quem se sente inútil. Ele sai de madrugada, e depois às nove, ao meio-dia, às três da tarde, e até mesmo às cinco, para dar propósito e dignidade a cada um que encontra desocupado. O seu gesto não é esmola; é a generosidade que devolve o valor e a dignidade humana. Ele não quer ver ninguém no desamparo. É um Deus que, com cortesia e respeito, toma a iniciativa para nos tirar da inércia e nos dar um sentido.

Mas o grande conflito da parábola surge no momento do pagamento, e aqui está a chave para a nossa saúde mental. Os primeiros a chegar, que suportaram o peso do dia, não se alegram por terem recebido o salário, o denário combinado. Em vez disso, ficam cheios de insatisfação ao ver que os últimos recebem o mesmo. A sua inveja e o seu orgulho são ativados. Eles não estão felizes com a sua própria recompensa; estão amargurados porque a graça dada aos outros parece injusta.

Essa é a toxicidade da comparação. Na nossa vida, fazemos a mesma coisa. Olhamos para o sucesso de um amigo, para o relacionamento feliz de um colega, para a alegria de alguém que parece ter chegado “por último”, e a nossa paz interior se desintegra. Em vez de celebrar a nossa própria jornada, o nosso trabalho, as nossas conquistas, ficamos fixados no que o outro recebeu. Pensamos: “Eu mereço mais. Eu sofri mais. Eu me esforcei mais.” Essa mentalidade de merecimento nos coloca em uma prisão de vitimismo e ingratidão.

O dono da vinha, o nosso Deus, se irrita com essa lógica. Ele se torna duro, e não é para com os últimos, mas para com a mesquinhez dos primeiros. Ele questiona: “Amigo, eu não te faço injustiça. Não é justo que eu também faça o que quero com o que é meu?”. Essa pergunta nos choca e nos surpreende. Quem somos nós para questionar a bondade de Deus? Quem somos nós para reclamar da graça que os outros recebem, quando a nossa própria vida é um dom que não merecemos?

O perigo da comparação é que ele nos cega para a alegria do presente. Ele transforma a gratidão em ressentimento. A parábola nos convida a sair dessa prisão mental. E a libertação começa com um ato de humildade e memória: lembrar que o nosso valor não está no que fazemos ou no que temos, mas no amor com que somos amados. A saúde mental reside em celebrar a nossa própria jornada e a dos outros, sabendo que a generosidade de Deus é tão grande que há o suficiente para todos.

Alegremo-nos, então, porque temos a honra de estar na vinha do Senhor. Que a nossa felicidade não dependa do que os outros recebem, mas da dignidade que nos foi restaurada e do amor com que somos contemplados.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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