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Humildade e Compaixão Para Curar a Rigidez no Casamento

Humildade e Compaixão Para Curar a Rigidez no Casamento

“Certa vez, levantou-se um doutor na Lei para pôr Jesus à prova e lhe perguntou: ‘Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?'” (Lc 10, 25)

Meus amigos, observem a intenção por trás da pergunta do doutor da Lei. Ele não queria aprender; queria provar que já sabia, queria demonstrar superioridade. Ele estava usando a Palavra, a Lei, que deveria ser fonte de vida, como uma arma para ferir e colocar Jesus em dificuldade.

Quantas vezes fazemos o mesmo em nosso casamento? Quantas vezes usamos as regras implícitas do nosso relacionamento, o histórico de erros do cônjuge, o nosso conhecimento sobre o que é “certo” e “errado”, para provar a nossa razão e colocar a culpa no outro?

A questão central, que Jesus nos devolve, é: “Como você lê? Como você interpreta a lei?”

Se lemos a realidade e o nosso cônjuge apenas para confirmar nossas opiniões preestabelecidas, a nossa vida e o nosso relacionamento serão uma consequência dessa leitura míope e restrita.

A rigidez do doutor da Lei é a rigidez que aprisiona muitos casais. É aquela postura de quem, diante de uma crise, não se pergunta: “O que posso mudar em mim?”, mas sim: “Como posso provar que a culpa é dele(a)?”

É o nosso ego, o nosso “eu” que se recusa a ser perturbado ou ferido pela verdade. O nosso “eu” quer um relacionamento seguro, onde ele esteja sempre certo e o outro seja o eterno aprendiz ou o eterno culpado. Mas um amor que precisa de superioridade não é amor; é controle disfarçado de virtude. O amor deixa livre sempre.

O risco dessa leitura míope é que passamos a ver nosso conjuge não como um próximo a ser amado, mas como um adversário a ser corrigido ou vencido.

Jesus, com ternura radical, tenta abrir uma fresta, abalar a certeza do doutor da Lei, e o faz com a parábola do Samaritano.

O Samaritano caído no caminho, precisando de ajuda, de socorro e compaixão, representa tudo o que o doutor da Lei, e a nossa rigidez interior, despreza. É o adversário social, religioso e cultural. Ele é o “outro” que a nossa opinião já condenou.

A lição é brutal e bela: Aquele que faz a compaixão acontecer, aquele que se faz próximo de verdade, não é o que tem o conhecimento correto, nem o que tem o status social de um sacerdote ou levita, mas sim o Samaritano. Aliás muitos vezes o sacerdote e o pastor, estão tão cheios de si, são orgulhosos e prepotentes, que não tem o olhar de misericórdia para a colher a ovelha ferida ou perdida, não servem o altar, mas servem-se do altar e do povo, para seus próprios caprichos, para seus banquetes com o dinheiro sagrado do humilde, não são pastores, mas mercenários. E por isso, é justamente o marginal que passa a beira do caminho, o excomungado, quem nos ensina o amor, amando sem saber quem é ou o que tem o que precisa de ajuda.

Para o casamento, isso significa:

  1. Abandonar as Pequenas Certezas: A mudança e a cura no relacionamento só virão quando tivermos a humildade de suspender nosso julgamento e aceitar que a verdade e a compaixão podem vir de onde menos esperamos, até mesmo do ponto de vista do nosso comjuge que tanto criticamos.
  2. Permita-se Ser Ferido: A Palavra, assim como a verdade do cônjuge, pode nos ferir,  no bom sentido. Deve nos perturbar o suficiente para nos tirar da nossa rigidez e nos mover à ação.

O teste final da nossa leitura de vida não é o quanto sabemos a Lei (ou as regras do casamento), mas o quanto somos capazes de compaixão e de nos fazer próximos. A cura da nossa união exige que transformemos nosso adversário (o nosso cônjuge que pode ser até irritante) em nosso próximo, acolhendo sua dor e vulnerabilidade com o mesmo amor incondicional do Samaritano. Vendo nele a boa de Deus que nos fala.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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