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Companheirismo Real: Como a Igualdade e a Autonomia Fortalecem a União e Curam Feridas no Casamento

Parceria Real: Como a Igualdade e a Autonomia Fortalecem a União e Curam Feridas no Casamento

“E aconteceu, depois disso, que andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele, e algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios.” (Lc 8, 1-2)

A passagem de hoje é um dos pequenos e mais revolucionários segredos do evangelho de Lucas. Em apenas três versículos, Jesus nos revela a essência de um relacionamento saudável e de uma verdadeira parceria, algo que a cultura da época e, muitas vezes, a nossa ainda não compreendem.

A visão de Jesus para o Reino de Deus não era um clube exclusivo para homens. Pelo contrário, Ele subverteu a lógica patriarcal de Sua época e acolheu as mulheres em um papel de protagonistas e discípulas. A lista de Lucas é intencional e profunda: Maria Madalena, Joana, Susana, e “muitas outras”. Elas não estavam ali como meras coadjuvantes, mas como parceiras que haviam deixado tudo para seguir o Mestre e que O “serviam com os seus bens”.

Essa é uma lição poderosa para o casamento. Um relacionamento verdadeiramente igualitário e saudável não é construído sobre papéis de gênero rígidos, onde um é o provedor e o outro o cuidador. Essa dinâmica de “você faz isso, eu faço aquilo” muitas vezes cria dependência, ressentimento e falta de comunicação. A autonomia de Joana e Susana, que usavam seus próprios recursos para sustentar a missão, nos mostra que a união mais forte é aquela em que ambos os parceiros se sentem inteiros, com sua própria identidade, e contribuem ativamente para o crescimento do todo.

Como psicoterapeuta, vejo que muitas das feridas no casamento vêm justamente dessa tentativa de encaixar o relacionamento em um modelo que não valoriza a igualdade. Homens sentem a pressão de ter que ser fortes o tempo todo, sufocando suas emoções. Mulheres sentem que suas contribuições são menos valorizadas, por não serem as tradicionais. O resultado é um desequilíbrio que leva à solidão a dois.

A cura começa quando, como o grupo de Jesus, decidimos formar uma nova “família”, onde não há mais “nem judeu nem grego, nem homem nem mulher”. É a liberdade de construir uma parceria baseada em reciprocidade e amor mútuo.

A história de Maria Madalena, que foi “curada de sete demônios”, nos lembra que para sermos verdadeiros parceiros, precisamos primeiro cuidar das nossas próprias feridas. A cura do passado, dos traumas e dos desconfortos que carregamos é fundamental para que possamos nos doar ao outro de forma completa e saudável. Só um coração livre e curado pode se doar sem esperar nada em troca, em uma verdadeira parceria de amor.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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