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Chega de Culpados: Como a Responsabilidade Transforma a Insatisfação no Casamento

Chega de Culpados: Como a Responsabilidade Transforma a Insatisfação no Casamento

“A que, pois, compararei os homens desta geração, e a que são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns para os outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; lamentamos, e não chorastes.” (Lc 7, 31-32)

A passagem de hoje nos traz uma das parábolas mais certeiras de Jesus, a qual podemos aplicar diretamente para a dinâmica de muitos casais. Jesus está descrevendo a atitude de pessoas que se recusam a mudar, que não importa o que o outro faça, sempre encontrarão um motivo para reclamar. Pessoas não gratas, que vivem em um descontentamento constante, para elas nunca nada está bom, sempre reclamam, e fazem de sua vida e do seu cônjuge um peso.

Jesus diz: “Tocamos flauta, e vocês não dançaram; lamentamos, e vocês não choraram.” É a síndrome do “você nunca está certo”, que tanto nos frustra e nos aprisiona em um ciclo de insatisfação e raiva. É a postura de quem não quer assumir a responsabilidade por sua própria felicidade ou por sua parte na dor do relacionamento.

É muito mais fácil culpar o outro: “Se você tivesse sido mais presente, eu seria mais feliz”; “Se você fosse mais carinhoso, eu não seria tão distante”. O foco está sempre no que o outro deve fazer, e nunca no que nós mesmos podemos mudar.

Essa dinâmica de queixas é o maior inimigo da intimidade em um casamento. Ela cria um muro de rancor e ressentimento que impede a comunicação e qualquer tentativa de cura. O coração fica endurecido e se torna incapaz de dançar, mesmo quando a flauta é tocada, e de chorar, mesmo diante de um lamento. É a postura da falta de empatia e envolvimento sincero com o outro, por medo de se expor, ser julgado, ou até mostrar fraqueza, de modo a viver um vazio interior e uma vida conjugal sem entrega.

Jesus é o “príncipe do diálogo” porque Ele tenta, com gentileza, entender as razões por trás das nossas atitudes. Mas Ele também sabe que há um limite para a Sua paciência quando Ele encontra um coração que se recusa a ser honesto e a assumir a responsabilidade pelo seu próprio comportamento. Ele sabe que a mudança verdadeira só pode vir de dentro; embora exista a graça de Deus que transforma, o homem deve dar o passo de querer ser transformado e deixar a graça agir.

O caminho para quebrar esse ciclo é a entrega humilde e sincera. É a coragem de olhar para si mesmo e dizer: “Qual é a minha parte nisso?” A liberdade começa quando paramos de procurar culpados e começamos a procurar soluções, a partir de nós mesmos. Outro passo muito importante é assumir os seus erros, culpas e omissões.

O rancor é uma forma de auto-punição. Ao segurarmos a culpa do outro em nossas mãos, estamos nos condenando à tristeza e à insatisfação. O amor no casamento só pode florescer em um solo de honestidade e responsabilidade mútua, onde cada um se compromete a ser o primeiro a mudar.

O Evangelho fala sobre a recusa em mudar e a dinâmica de culpar o outro. Você consegue identificar em seu relacionamento uma situação específica onde essa dinâmica de “culpado versus vítima” tem se repetido? O que você está fazendo para mudar isso?

Que a mensagem de Jesus nos inspire a abandonar o jogo da culpa, a enfrentar a nossa própria insatisfação e a nos libertar do rancor. A felicidade no relacionamento não é um presente que um dá ao outro, mas uma construção que se faz com a humildade e a responsabilidade de cada um.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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