Brigando por Bobagens? Como as Pequenas Brigas Escondem Problemas Gigantes no Casamento

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois dizimais a hortelã e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé  Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas. Condutores cegos! Que coais um mosquito, mas engolis um camelo..” (Mt 23, 23)

Há uma imagem poderosa e, ao mesmo tempo, um alerta profundo na Palavra de hoje. Jesus não está criticando o cuidado dos fariseus com os detalhes. Ele os repreende porque, na obsessão por essas minúcias, eles perderam o que era essencial: a justiça, a misericórdia e a fé.

Essa é uma das armadilhas mais comuns nos relacionamentos hoje. Em nosso dia a dia, muitos casais se tornam mestres em “coar mosquitos”: brigam por causa da louça suja na pia, de uma toalha molhada na cama, de um comentário dito em um tom de voz que não foi o ideal. Gastam uma energia imensa em detalhes para evitar um confronto com o “camelo” que têm que engolir: a falta de intimidade, o ressentimento guardado, as necessidades emocionais que não são ditas e o medo de viverem a verdade de sua união.

O perfeccionismo e a ansiedade são, na verdade, máscaras. Por trás do parceiro que se irrita com um pequeno erro, está o medo de não ser suficiente. Por trás do casal que se preocupa com a imagem perfeita nas redes sociais, está a ansiedade de não ter o controle sobre o que é mais importante. Essa é a hipocrisia moderna: fingimos que está tudo bem, enquanto nossa vida interior é um caos. Essa “dupla moral” nos leva à exaustão e a uma profunda solidão.

E é aqui que a espiritualidade nos oferece um caminho para a cura do relacionamento. As três virtudes que Jesus menciona não são apenas mandamentos religiosos; são as bases para uma união psicológica e emocionalmente saudável.

• Justiça: A justiça, no sentido bíblico, é viver em alinhamento com a verdade do amor. É a coragem de assumir nossos erros, de pedir perdão e de nos reconciliar. Em um casamento, isso significa não manter um placar de quem fez mais ou menos, mas viver com integridade, tratando o outro com dignidade.
• Misericórdia: Misericórdia é a capacidade de amar o outro em sua fragilidade. É o contrário do cinismo e da acidez nas discussões. É a compaixão que nos permite aceitar as imperfeições do nosso parceiro e, principalmente, as nossas próprias.
• Fé: A fé é a confiança na aliança que vocês fizeram. É a certeza de que, apesar das dificuldades, vocês estão juntos. Ela nos liberta da necessidade de controlar tudo. É o oposto do orgulho que nos leva a acreditar que podemos viver um casamento perfeito e sem falhas, ao invés de uma união real e autêntica.

Quando você se encontra “coando mosquitos”, pare e pergunte-se: “Qual camelo estamos tentando evitar?” A cura não está em se tornar um casal perfeito, mas em ter a humildade de se sentar e digerir o grande desafio da vida a dois com fé e misericórdia. Deixem de lado a obsessão por detalhes e comecem a focar no que realmente importa: a verdade, a justiça e o amor. Só assim vocês encontrarão a paz que tanto buscam e se libertarão da armadilha do perfeccionismo no casamento.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares