A Felicidade Invertida: Como as Bem-Aventuranças Curam a Tristeza e a Ansiedade

“Bem-aventurados vós, os pobres, porque deles é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem e rejeitarem vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.” (Lc 6, 20-22)
A passagem de hoje nos apresenta uma das mensagens mais desafiadoras e curadoras de toda a Bíblia: as Bem-Aventuranças. Jesus nos oferece uma felicidade que o mundo não entende, uma alegria que não tem nada a ver com o que o Instagram ou as redes sociais nos vendem, com fotos de pessoas forçando a felicidade. Em vez de prometer sucesso, riqueza e aplausos, Jesus olha para os pobres, os famintos e os que choram, e lhes diz: “Vocês são beatos, vocês são felizes, eu me alegro convosco”.
Essa é uma mensagem de esperança radical para a nossa saúde mental. O mundo nos ensina a correr atrás do que está faltando: o dinheiro que não temos, a aprovação que não recebemos, a vida perfeita que só existe nas telas. Esse vazio nos leva a um ciclo de ansiedade, frustração e sentimento de termos fracassado. Vivemos em um constante estado de “e se”, buscando preencher uma lacuna que nunca se fecha, pois estamos procurando no lugar errado. E se, poderia ter sido tanta coisa, o e se, só nos faz mal.
Jesus, no entanto, inverte a lógica. Ele nos mostra que a verdadeira felicidade e a paz interior não vêm da ausência de sofrimento, mas da liberdade de abraçá-lo com fé. A pobreza de espírito, a fome de justiça, as lágrimas sinceras e a perseguição por causa da verdade não são maldições; são portas de entrada para uma plenitude que o mundo jamais poderá oferecer. A paz muitas vezes é alcançada só depois dos conflitos, falta de conflito não significa ter paz. Muitos casais vivem um silêncio forçado, sem se enfrentarem e se calam diante do outro para ter paz, enquanto seus corações estão em guerra. A paz vem com a sinceridade, a transparência e a abertura ao outro.
Lucas, na continuação do evangelho de hoje, adiciona quatro “ais”. Eles não são maldições, mas alertas. Jesus nos diz: “Ai de vós, os ricos… os que agora estais fartos… os que agora rides… os que os homens louvam.” Isso não significa que o dinheiro, a fartura ou o riso sejam maus em si mesmos. O “ai” é um aviso sobre o risco de colocar nossa segurança, nossa identidade e nossa felicidade em coisas que são passageiras. Quando a nossa vida se baseia apenas no ter, no consumir e no ser aplaudido, nos tornamos frágeis demais, e aí, o vazio de uma vida sem propósito e sentido se torna insuportável.
As Bem-Aventuranças nos convidam a mudar a direção do nosso olhar. Em vez de fixar nossos olhos no que nos falta, somos chamados a enxergar a riqueza espiritual que nasce de um coração grato, a saciedade que vem da busca por justiça, e a alegria que surge da fé em meio às lágrimas. É uma escolha consciente de viver na contramão do que o mundo prega.
A cura acontece quando nos sentamos com Jesus e, como a multidão, permitimos que as Suas palavras diretas toquem nosso coração. Elas nos lembram que a liberdade vem de desapegar-se do que é efêmero e de ancorar nossa esperança no que é eterno. A verdadeira saúde mental e paz não são a ausência de problemas, mas a coragem de enfrentá-los com uma fé que nos diz: “Bem-aventurado és tu, porque a tua recompensa será grande no Reino dos céus.”
Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares