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O Fim do Controle: Como a Humildade Liberta o Relacionamento do Medo e da Ansiedade

O Fim do Controle: Como a Humildade Liberta o Relacionamento do Medo e da Ansiedade

“O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo e ficou perplexo, pois alguns diziam que João tinha ressuscitado dos mortos, outros que Elias tinha aparecido, e ainda outros que um dos antigos profetas tinha voltado. Mas Herodes disse: ‘Mandei decapitar João. Quem é, então, este de quem ouço tais coisas?’ E procurava vê-lo.” (Lc 9, 7-9)

A figura de Herodes nesta passagem é um espelho para algo que vive em cada um de nós. Herodes era um homem de poder, acostumado a ter tudo sob controle, a silenciar vozes que o incomodavam e a manter sua realidade dentro de uma caixa segura e previsível. No entanto, a notícia sobre Jesus o deixou em um estado de perplexidade e confusão. A sua pequena certeza, a de que ele havia eliminado o problema ao matar João Batista, foi virada de cabeça para baixo.

Essa dinâmica de controle e perplexidade é muito comum nos relacionamentos. Quantas vezes criamos um “pequeno Herodes” dentro de nós, que tenta controlar cada passo, cada fala, cada pensamento do nosso parceiro? Tentamos moldar a relação para que ela se encaixe em nossas expectativas e segredos, para que não tenhamos que lidar com o medo da vulnerabilidade e com a ansiedade do desconhecido.

Nós, como Herodes, somos obcecados pelas aparências. Vivemos em um teatro onde atuamos o papel do casal perfeito, com as fotos ideais nas redes sociais, enquanto, por dentro, estamos cheios de dúvidas e inseguranças. A perplexidade de Herodes chega quando uma verdade inesperada, como o ressurgimento de João Batista, desafia essa fachada.

No casamento, essa verdade pode ser a chegada de uma crise, uma descoberta dolorosa, ou até mesmo o início da terapia. Esses eventos são como a notícia de que “alguém ressuscitou”. Eles nos forçam a abandonar nossas pequenas certezas e a enfrentar a realidade. A atitude de Herodes é a de tentar enquadrar o novo em velhos padrões (“É João Batista? É Elias?”), em vez de se abrir para o que é genuinamente novo.

O caminho para a cura é a humildade. É a coragem de admitir que não temos o controle de tudo e que não estamos sempre certos. É o ato de abandonar o ego e o medo, e de ir “ver, de verdade” o nosso parceiro com o coração aberto. Essa honestidade radical é a única maneira de desmantelar o muro de ansiedade e rancor que construímos.

Quando permitimos que nossas certezas desapareçam, abrimos espaço para que a conexão e a intimidade verdadeira floresçam. A dúvida de Herodes poderia ter sido o portal para uma relação com Jesus, mas ele a sufocou com o seu próprio medo.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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