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Por que o amor de Deus cura a ansiedade, a depressão e a culpa?

Por que o amor de Deus cura a ansiedade, a depressão e a culpa?

Em uma tarde na Galileia, Jesus foi convidado para jantar na casa de Simão, o fariseu. A mesa estava posta, a conversa fluía, mas algo estava prestes a acontecer e mudar a lógica daquele banquete. “Aconteceu que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de perfume. E, ficando por trás dele, a seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e a enxugá-los com os próprios cabelos; e o beijava e os ungia com o perfume.” (Lucas 7,37-38).

Essa cena, narrada por Lucas, à primeira vista, parece um simples relato bíblico, mas, para quem olha com o coração, ela se torna uma poderosa lição sobre a saúde mental e a cura que vem do amor de Deus. A mulher, conhecida por sua história de vida e seus pecados, por ser uma prostituta, destoa naquele ambiente formal. Ela não se importa com os julgamentos, com os olhares de desprezo. Seu ato é de profunda vulnerabilidade e desespero, e isso nos fala diretamente, nos fazendo refletir as nossas próprias dores.

Quantos de nós carregamos o peso da culpa e da vergonha, como uma carga invisível? O sentimento de não ser digno, de ter falhado repetidamente, ou até de termos cometido um pecado grave, mesmo que no passado, pode nos paralisar. A ansiedade, a inquietude da alma, muitas vezes surge desse lugar em que nos colocamos de autocondenação. Vivemos em uma sociedade que valoriza a perfeição, o sucesso a todo custo, e qualquer deslize se torna um motivo para nos sentirmos indignos. A mulher pecadora sabia disso. Ela não tinha mérito algum, mas sua dor era tão grande que ela precisava de um refúgio, precisava de Jesus.

Quantos de nós, por nos sentirmos sujos ou imundos pelo pecado, não nos sentimos dignos de Deus, e nos afastamos dele, da oração, sendo que deveria ser o contrário? Jesus veio para os miseráveis, para os doentes, para aqueles que necessitam de cura, no corpo e na alma, ele não veio para aqueles que se acham puros, bons e santos. Ele veio aquele que tem vergonha do seu pecado, dor de ter errado e culpa por ter ferido o seu semelhante. Onde abundou o pecado, abunda a graça de Deus que cura e liberta!

A reação dos fariseus é previsível. Eles olham para a mulher com nojo e para Jesus com desconfiança. “Se este homem fosse profeta”, eles pensam, “ele saberia quem e que tipo de mulher é esta que o toca! Ele não se deixaria contaminar”. Essa mentalidade revela uma compreensão equivocada do amor. Eles viam o mundo através da lei e do mérito, onde o toque de uma pecadora traria contaminação. Mas Jesus, em sua infinita sabedoria, enxerga o coração. Ele não vê uma pecadora, vê uma alma que precisa de perdão e restauração. Ele vê uma alma arrependida que precisa ser curada e tocada pela graça de Deus. O seu pecado não afasta ela de Deus, mas a conduz ao coração de Deus. Ela reza no silêncio do seu coração pedindo o perdão e Jesus a escuta, se deixa amar por ela e ela por Ele.

A atitude de Jesus é um bálsamo para as nossas dores emocionais. Ele não a repele. Pelo contrário, Ele acolhe o choro, o toque, o perfume, e a entrega. Essa acolhida incondicional é o primeiro passo para a cura. A mulher se sentiu amada antes mesmo de ser perdoada. Essa é a essência do amor de Deus: Ele nos ama como somos, não como deveríamos ser. É esse amor que nos liberta da ansiedade e do peso da culpa. Quem se sente amado por Deus, pode amar de verdade!

Jesus então se volta para Simão com uma pergunta que o coloca em cheque: “Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais?”. A resposta de Simão é óbvia: “Aquele a quem mais perdoou.” E Jesus o repreende, mostrando que o amor da mulher, demonstrado em suas ações, superava a hospitalidade de Simão. A mulher sabia o tamanho de sua dívida e o quão grande foi o perdão que recebeu. Simão, em sua autossuficiência, não se sentia devedor, e por isso, não conseguia amar tanto.

Aqui está a grande lição para a nossa saúde mental: a cura verdadeira da culpa e da ansiedade começa quando reconhecemos a nossa própria necessidade de amor e perdão. Enquanto pensarmos que somos bons, santos e poderosos, podendo “consertar” nossos erros sozinhos, permaneceremos presos ao nosso próprio julgamento. A humildade de reconhecer que somos imperfeitos e que precisamos da graça de Deus é o que nos liberta.

A mulher se entregou e, nesse ato, a sua ansiedade, depressão e culpa foram desfeitas pelo amor. Jesus não apenas a perdoou, Ele a restaurou completamente. Sua última palavra para ela é a mais poderosa de todas: “A tua fé te salvou; vai-te em paz.”

A paz que Jesus dá não é a ausência de problemas, mas a certeza de que somos amados incondicionalmente. Essa paz é o antídoto para a ansiedade ou até a depressão doentia, que nos bloquei ou nos faz agir impulsivamente. O amor que perdoa é o que nos liberta da culpa que sufoca. A fé é a chave que abre nosso coração para essa experiência. Viver em Deus não é uma questão de mérito ou de “ser bom”, mas de humildade e entrega. É permitir que o amor d’Ele se torne o motor de nossas vidas, curando nossas feridas e nos dando a paz que o mundo não pode oferecer. O amor de Deus cura a ansiedade e a culpa.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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