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A Coragem de Viver a Verdade: Por Que uma Vida com Propósito Desafia a Impulsividade

A Coragem de Viver a Verdade: Por Que uma Vida com Propósito Desafia a Impulsividade

A Coragem de Viver a Verdade: Por Que uma Vida com Propósito Desafia a Impulsividade

“E logo o rei enviou um soldado da sua guarda, e lhe ordenou que trouxesse a cabeça de João. E ele, tendo ido, o degolou na prisão, e trouxe a cabeça dele num prato, e a deu à adolescente, e a adolescente a deu a sua mãe.” (Mc 6, 27-28)

A morte de João Batista é uma das passagens mais perturbadoras da Bíblia. É a história de um homem guiado por um propósito divino e singular, que encontra seu fim por causa da impulsividade de um rei. Como psicoterapeuta, eu vejo essa história não apenas como um evento trágico do passado, mas como uma poderosa metáfora para o nosso tempo e para a nossa saúde mental.

João Batista, foi um homem devorado por um fogo. Aquele “fogo que ilumina e aquece”, a paixão dos apaixonados por Deus, que consome e, no fim, mata o que não é essencial. Ele viveu no deserto, em uma “heroica solidão”, mas não uma solidão de ausência de relação, pois estava conectado com o seu Senhor a todo momento, era na verdade solitude, estava longe das distrações, das convenções e dos vícios que tornam a vida vazias. A vida de João era uma integridade inabalável. Ele era a voz da verdade, e não precisava de aplausos ou de aprovação. Sua identidade era totalmente definida por seu propósito divino.

Em contraste, temos o rei Herodes, um homem que parecia ter aplausos e todo o poder do mundo, mas que era, na verdade, um escravo de si mesmo. Ele era “medroso, idiota, subjugado pela sedução e pelos seus próprios vicios”. Sua decisão de matar o profeta não foi um ato de grande poder, mas de uma terrível impulsividade nascida do medo do julgamento social. Ele fez uma “promessa idiota” a uma adolescente por vaidade, por esta seduzido pela beleza que passa,  e não teve a coragem de voltar atrás. A vida de Herodes é um exemplo de como o poder e o vazio podem coexistir: ele tinha o poder de um rei, mas sua vida não tinha significado e autocontrole.

E é aqui que a história de João e Herodes se torna um espelho para nós. Quantas vezes somos movidos por nossos próprios “vicios”, por nossos impulsos, por um desejo momentâneo de prazer ou de validação? Quantas vezes fazemos promessas que não podemos cumprir, só para manter uma imagem? A impulsividade de Herodes é a antítese da autenticidade de João. Ela é o caminho para o vazio, para as crises e para a ansiedade que vem da falta de autocontrole.

A vida de João Batista nos convida a uma escolha radical: a de viver uma vida de propósito, mesmo que ela nos leve à “heroica solidão” (que eu chamo de solitude, relação consigo e com Deus), em vez de uma vida de vazio, que nos deixa vulneráveis à impulsividade e ao medo do julgamento. Essa autenticidade é o caminho para a saúde mental. Ela nos liberta da necessidade de agradar a todos, da exaustão de viver uma vida que não é nossa.

A morte de João é uma dura lembrança de que ser um profeta, é ser alguém que vive uma vida de propósito e integridade, e esta vida sempre se choca com os valores do mundo. Mas o evangelho de hoje nos garante que o Senhor confia a sua Palavra a nós. A nós, que podemos escolher, a cada dia, entre o fogo que consome em nome da verdade e o vazio que consome em nome da aparência.

A saúde mental consiste no equilíbrio e na vida vivida com propósito.

Dr. Fernando Tadeu Barduzzi Tavares

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