O Jovem Rico no Casamento: Por que a Intimidade Exige Entregar suas Riquezas

“Disse-lhe Jesus: ‘Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me’. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” (Mt 19, 21-22)
Meus amigos, olhemos para este jovem rico. Ele não é um vilão. Em seu coração, ele carrega um desejo de Deus genuíno, uma busca por um amor que vá além das regras e das convenções. Ele se importa com sua espiritualidade, com a sua alma. Ele não se contenta em apenas seguir a lei; ele quer ir além, para um lugar de intimidade e plenitude.
Jesus, em sua infinita sabedoria, não o repreende, mas o acolhe. Ele lhe oferece um caminho simples e verdadeiro, dizendo: “siga os mandamentos”. O jovem, com sinceridade, diz que já faz isso. E aqui está a primeira grande lição para nós, casais: o desejo de Deus e de um amor profundo cresce em nós na medida em que vivemos com simplicidade as pequenas exigências da vida. A fidelidade, o respeito, a honestidade, tudo isso nos prepara para algo maior.
O problema surge no momento em que o jovem está pronto para o salto de qualidade. Quando Jesus o convida a abandonar tudo para segui-Lo, ele bloqueia. O seu desejo infelizmente está vinculado a sí mesmo. Ele quer encontrar Deus, mas impõe condições à sua busca. Ele quer a vida eterna, mas dentro dos limites do que ele já possui. Ele quer um amor perfeito, mas sem abrir mão de suas “riquezas”. Ele quer tudo, mas não quer dar tudo!
Como psicoterapeuta de casais, eu vejo o tempo todo o “jovem rico” dentro dos relacionamentos. As “riquezas” não são apenas o dinheiro. Elas podem ser o nosso apego ao controle, a necessidade de ter sempre razão, o ressentimento por mágoas passadas, o medo da vulnerabilidade, a ilusão de que o outro existe para nos fazer felizes, o nosso egoísmo que paira na manipulação. Esses são os nossos “bens”, os nossos “limites” dentro dos quais o amor deve ser encontrado. Nós dizemos: “Eu te amarei, mas só se você não me magoar mais.” “Eu me entregarei, mas só se você garantir que nunca irá me deixar.” Todas as vezes que nós colocamos condições ao outro, estamos presos aos nossos bens!
E aqui, Jesus nos mostra um erro crasso que impede a verdadeira intimidade. O amor que transforma não pode ser condicionado. Se queremos realmente encontrar um ao outro e viver um amor que se assemelhe a Deus, devemos permitir que o amor nos conduza, mesmo em lugares que não imaginamos, mesmo que isso signifique nos despojar de tudo aquilo que nos dá uma falsa sensação de segurança. A liberdade não está em possuir, mas em entregar-se.
O jovem rico se retira triste, porque escolheu a segurança de suas posses em vez da liberdade de um verdadeiro amor. A tristeza dele é o luto de um coração que percebe o que poderia ter sido, mas não teve coragem de abandonar o que é. Ele sabia que os mandamentos não eram o fim do caminho, mas preferiu a previsibilidade do que ele já tinha, não teve à ousadia de seguir o Mestre, de se entregar por completo a Ele e mergulhar no sonho de Deus para a sua vida.
A sua história é um espelho para nós. O seu desejo é o nosso desejo. O seu fracasso é o nosso fracasso. Mas a sua tristeza é um aviso e um convite para nós: não deixarmos que nossas “riquezas” nos impeçam de viver a plenitude do amor. Escolhamos a liberdade de nos entregar um ao outro, sem condições, para que possamos construir uma intimidade que é o verdadeiro tesouro. Você hoje deseja seguir qual caminho, o do apego ao seu eu o ou da entrega?
Dr. Fernando Tadeu